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Sobre nós

A Cia. do Tijolo é composta por artistas com formação distintas e que juntos e juntas confluíram para o caldo artístico da companhia. Essa junção de músicos e musicistas, compositores e compositoras, atores e atrizes, de artistas com formação acadêmica e/ ou popular, oriundos de todas as regiões do país conferem à Cia. do Tijolo uma maneira específica de lidar com a música e a palavra poética como forma de expressão dramatúrgica. A Cia. do Tijolo foi formada por membros que faziam parte de outros tradicionais grupos de teatro de São Paulo: o Grupo Ventoforte, a Cia. São Jorge de Variedades e A Casa Laboratório.

No entanto, não teríamos como não destacar o Ventoforte, afinal, a grande maioria da equipe é filho e filha do Vento, e tal qual herdados os ensinamentos e o horizonte para onde apontava/ aponta o olhar de Ilo Krugli, diretor e fundador do Ventoforte. – Ilo Krugli, diretor argentino, bonequeiro, dramaturgo, educador, faleceu no ano de 2019. Há um pouco de quintal também na estética do Tijolo, assim como havia na prática estética do Ventoforte. Um pouco de abrir espaço para o “não sei”, como Ilo sempre propunha em seus trabalhos, confirmando que vida e obra não é algo hermético e fixo. Soma-se a essas características, as pesquisas acerca de personalidades que ajudaram a constituir o nosso país, tanto de maneira concreta como simbólica e que norteiam nosso desejo de troca: o de relembrar, desvelar e dividir histórias de nosso país que são apagadas ou contadas de maneiras enviesadas. Toda nossa pesquisa tem como parâmetro o atrito com o momento presente.

O nome Cia. do Tijolo é uma referência à palavra geradora usada pelo professor Paulo Freire durante a alfabetização de adultos trabalhadores da construção civil, na cidade de Angicos, RN, no início da década de 60. Em nossa raiz tentamos também a ética freiriana do pensamento e execução da criação de maneira conjunta e de debate horizontal.                      
Nesse ano de 2024, a Cia. comemora 16 anos de labuta, suor, música, poesia e afeto.

Trajetória

Trajetória

A Cia do Tijolo nasceu do desejo de fazer um espetáculo a partir da obra do poeta cearense, Patativa do Assaré. Fundado em 2008, a trajetória da Cia do Tijolo começou homenageando o poeta Patativa nos espetáculos “Cante Lá que eu Canto Cá” e “Concerto de Ispinho e Fulô”. “Canté lá que eu canto cá” foi convidado a inaugurar o Teatro Patativa do Assaré, na cidade de Juazeiro do Norte- CE, em 2008. “Concerto de Ispinho e Fulô” estreou no ano seguinte, em 2009.
A proximidade da poesia como forma do discurso e por ser um poeta de sua terra e de seu tempo nos impeliu a acercarmo-nos de outro poeta que também transformou suas vivências cotidianas em experiências humanas universais: Federico Garcia Lorca. Lorca inspirou o segundo espetáculo “Cantata para um Bastidor de Utopias” estreou em 2013 e é uma peça que conta a história de Mariana Piñeda, jovem que morreu ao desafiar o autoritarismo monárquico espanhol. A trama tratou de temas como a Guerra Civil Espanhola e a Ditadura Civil e Militar no Brasil, trazendo sempre em cada apresentação convidados e convidadas para debater a respeito da história de nosso país com o enfoque no período do golpe.
O terceiro espetáculo “Ledores no Breu”, com estreia em 2014, vem ao encontro do pensamento e prática do educador Paulo Freire e trata das relações entre o homem sem leitura e sem escrita com o mundo ao seu redor. Paulo Freire é inspiração constante nas pesquisas e obras do Tijolo – o nome da companhia, Cia do Tijolo, é inspirado em uma das palavras geradoras usadas por Paulo Freire durante a alfabetização de um grupo de adultos trabalhadores da construção civil, em Angicos, RN.
O espetáculo “O Avesso do Claustro”, convida o público para um encontro com uma das figuras mais importantes da história brasileira do século XX, Dom Helder Câmara, o bispo vermelho. Esse trabalho estrou no ano de 2016, em plena mudança política no nosso país.
Em 2022 estreou o primeiro trabalho da Cia pensado para a rua, a “Corteja Paulo Freire”. A corteja, inspiração da palavra cortejar, é um projeto itinerante que chegou como veio como desejo de comemoração 100 anos do professor, patrono da Educação Brasileira.
“Guará Vermelha”, inspirado no livro O voo da guará vermelha, da autora Maria Valéria Rezende, é o ultimo trabalho da Cia do Tijolo. Essa peça é a primeira da Cia inspirada em uma autora, e conta a história de Rosálio e Irene, um pedreiro analfabeto, contador de histórias, que deseja aprender a ler e escrever e uma prostituta que sonhava em ser professora. Através deles aparecem outros personagens que contam também essa história de figuras de expressão brasileiras que se transformam através de uma troca freiriana. A Guará Vermelha estreou em 2023 e com apresentações para EJAS e CIEJAS da cidade de São Paulo e esteve em cartaz por seis semanas no SESC Avenida Paulista.
No momento, a Cia está em pesquisa e montagem do novo trabalho inspirado na história de Canudos.

Todos os espetáculos da Cia. do Tijolo correram várias cidades brasileiras e festivais passando por 25 estados, mais o Distrito Federal, com nossos espetáculos, com debates, oficinas e trocas de pensamento com grupos de relevância artística por todo o país.
A Cia também mantém uma pesquisa contínua chamada “Núcleo Musical da Cia do Tijolo”, desde o ano de 2017.

No momento, a Cia está em pesquisa e montagem do novo trabalho inspirado na história de Canudos, com o título de Restinga de Canudos.
 

Premiações

A Cia recebeu o Prêmio Shell de Música e Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro
de Projeto Sonoro por “Concerto de Ispinho e Fulô”, em 2010 e, em 2011 representou o Brasil no Festival Assitej 2011, na Dinamarca. “Cantata Para um Bastidor de Utopias” recebeu também os Prêmio Shell de Música e Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro de Projeto Sonoro, em 2014, Prêmio Shell de Melhor Cenário e foi indicado ao Prêmio Governador do Estado, em 2014. Também foi criado um livro-documento do espetáculo, com textos dos e das artistas envolvidos, partituras das músicas e reflexões de convidados e convidadas que passaram pelo espetáculo. “O Avesso do Claustro” foi indicado ao prêmio Governador do Estado do ano de 2017. Esses três espetáculos da Cia do Tijolo tiveram suas composições gravadas em CD e também estão disponíveis nas plataformas digitais.

 

Premiações
Mais recente
Em processo

Nosso espetáculo mais recente: Guará Vermelha

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Aqui está um pouco de nossa inspiração para a criação da nossa peça mais recente chamada Guará Vermelha:

Processo é se entender com Paulo Freire.

“O homem que se desperta, não importa a idade, e refaz o

caminho da descoberta dos  códigos, esse homem dança para si e para Deus.  

Foi aqui, nessa sala, que Joaquim se levantou um dia durante

o processo de alfabetização, foi  ao quadro, ao quadro negro,

apanhou o giz e escreveu a palavra NINA.

Quando acabou de  escrever, ele deu uma gargalhada nervosa

que quase não terminava. E eu disse: Joaquim, que  passa, que há contigo?

Ele riu, olhou pra mim e disse: Puxa, Nina é o nome de minha mulher!  

Eu ainda me sinto profundamente emocionado pela significação simbólica.

Eu percebia nos  olhos deles, nas caras deles, uma espécie de alívio centenário.

É como se tivessem sacudindo  pra fora uma pedra de cima dos ombros,

que há séculos repousava neles.

Percebi na briga, o  gosto da luta, para superar o obstáculo.”  

Paulo Freire 

 

 

Paulo Freire faz 100 anos, em 2021. O projeto A Cabeça Pensa onde os Pés Pisam - celebrando Paulo Freire no seu centenário, é uma maneira de, a partir de um conjunto de ações articuladas, celebrá-lo, homenageá-lo, fazer justiça a ele, às professoras e aos professores brasileiros. Nosso patrono da educação é um dos pensadores brasileiros mais importantes, o mais reconhecido internacionalmente, um dos intelectuais mais citados em artigos acadêmicos, teses e dissertações mundo afora. Isso já seria motivo de sobra para cantarmos em verso e prosa  a existência desse pernambucano eminente. Mas, no nosso caso, não se trata  somente de buscar inspirações temáticas para projetos nas efemérides. Nossa relação com o autor da Pedagogia do Oprimido é antiga e é estruturante de  nossa maneira de ver, pensar e agir, ética, estética e politicamente.  

Em 2008, quando nos pusemos a estudar a vida e obra do poeta Patativa do Assaré no intuito de criarmos nosso primeiro trabalho, nos deparamos com uma dificuldade dramatúrgica: Por onde abordar uma obra tão vasta? Que caminho seguir? Não desejávamos realizar um espetáculo biográfico e também não nos agradava a ideia de realizar um sarau ou algum mero alinhamento de canções e poemas. Sabíamos que se bem trabalhado e aprofundado, Patativa poderia nos dar uma visão singular do Brasil. Foi na  busca de um veio que apontasse caminhos dramatúrgicos possíveis que  iniciamos o estudo da obra de Paulo Freire. O poeta cearense, autor de uma  obra gigantesca, havia estudado somente 6 meses em escola regular. Depois, de leitura em leitura, desenvolveu a capacidade de ler as palavras, as frases. O processo de alfabetização de nosso personagem mostrou-se inseparável de sua formação ética e política. 

 

Patativa cantou em versos seu processo de aprendizagem:  

”Eu nasci ouvindo os cantos 

das aves de minha serra 

e vendo os belos encantos 

que a mata bonita encerra 

foi ali que eu fui crescendo 

fui vendo e fui aprendendo 

no livro da natureza 

onde Deus é mais visível 

o coração mais sensível 

e a vida tem mais pureza. 

Sem poder fazer escolhas 

de livro artificial 

estudei nas lindas folhas 

do meu livro natural 

e, assim, longe da cidade 

lendo nessa faculdade 

que tem todos os sinais 

com esses estudos meus 

aprendi amar a Deus 

na vida dos animais.”  

Patativa do Assaré. 

Impossível não encontrar ressonância na célebre máxima de Paulo Freire: “É preciso aprender a  ler o mundo, antes de ler as palavras.” Patativa leu o mundo, depois leu as palavras, politizou- se,  inventou em si mesmo, autodidata que foi, o projeto pedagógico freiriano. 

O nome com o qual nos batizamos, em meados de 2008, surgiu de nossas primeiras leituras  da Pedagogia do Oprimido, No processo de alfabetização dos trabalhadores de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1963, o professor descobriu que deveria, antes de mais nada,  buscar nas experiências concretas de produção e reprodução da vida e no vocabulário  daqueles homens e mulheres, palavras que fossem prenhes de sentido e a partir das quais  fosse possível iniciar o processo de fazê-los desbravar o mundo das palavras lidas e escritas,  sem nunca desprezar seus saberes próprios acumulados. A palavra altamente significativa  daquele determinado grupo, a palavra geradora daqueles trabalhadores foi ti-jo-lo. Revelou se assim, nosso nome, freirianamente, Cia do Tijolo. Dessa forma, fica evidente nossa relação  umbilical com o homenageado. Alguns anos depois, iríamos criar o espetáculo Ledores  no Breu, baseado na práxis do pensador pernambucano. Com Ledores no Breu, a Cia. do  Tijolo circulou pelo país, apresentou - se em escolas, EJAs, associações de moradores, teatros,  praças, em mais de sessenta cidades. 

O projeto A Cabeça pensa onde os Pés Pisam - celebrando Paulo Freire no seu  centenário, pretende celebrar com um conjunto de ações, esse professor tão importante  para nós, da Cia do Tijolo, para nós, cidadãos brasileiros. Além do mais, o desejo de  comemorar acaba se tornando um imperativo, uma forma de fazer frente aos detratores  de sua vida e de sua obra que, paradoxalmente, desconhecem-na completamente.

É preciso festejar Paulo Freire. Mas como fazê-lo freirianamente? Como, mais que falar sobre  o homem e sobre a obra, encontrar a melhor forma de atuá-la, vivê-la, fazer dela uma práxis? 

O que seria celebrar Paulo Freire freirianamente? Como homenagear, mais do que o  homem, tantos educadores e educadoras que saíram pelos interiores do país alfabetizando,  aprendendo, ensinando, construindo o freiriano para além de Paulo Freire? 

Chegamos assim à escritora Maria Valéria Rezende. Escritora temporã, ganhadora de três  prêmios Jabutis, feminista, criadora do Mulherio das Letras - grupo que reúne mulheres escritoras  de todo o Brasil – educadora popular por mais de quarenta anos, freira e nossa amiga. 

O livro O Voo da guará vermelha, que serve de inspiração para o próximo espetáculo  da Cia. do Tijolo, encabeça toda uma série de ações em homenagem às professoras e  professores brasileiros, a toda sua dedicação, resiliência, a toda sua importância para  a construção de homens e mulheres autônomos, capazes de própria elaboração de  conduta e pensamento crítico. 

A partir dos olhos e ouvidos de tantos professores e professoras, o projeto A Cabeça  Pensa onde os Pés Pisam - celebrando Paulo Freire no seu centenário, representa uma  forma de relermos nossa trajetória, olharmo-nos nos olhos e refletirmos, juntos e juntas,  no palco, na rua, na praça, junto com as muitas plateias, sobre as condições atuais de  existência em São Paulo, no Brasil e no mundo.

SOBRE A IMPORTÂNCIA DE CELEBRAR PAULO FREIRE FREIRIANAMENTE 

 

Tese VI: “Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. (…) O  dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador  convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse  inimigo não tem cessado de vencer.” Walter Benjamin - Teses sobre a história. 

A professora Marilena Chauí, respondendo à pergunta sobre a diferença entre  Paulo Freire e a maioria dos intelectuais brasileiros, enfatiza o fato de que o  grande pensador pernambucano transforma um conjunto de ideias em uma  práxis (unidade dialética do pensar e do ser, ao mesmo tempo saber e prática,  conhecimento e ação). A escola pensada e posta em prática por Paulo Freire é um  espaço de transformação real e cotidiana de alunos e professores. O processo de  aprendizagem é sempre conjunto. Alunos, professores, familiares, funcionários,  todos aprendem cotidianamente. O aprendizado se realiza conjuntamente no  espaço da troca. Surge aí, para nós, uma encruzilhada: no atual momento do  Brasil, julgamos ser imensamente necessário homenagear, celebrar, estudar  Paulo Freire. Seu nome tem sido sistematicamente achincalhado há alguns anos.  Muitos daqueles que escutam esses ataques não conhecem o autor, nunca leram  sua obra e tornam- se presas fáceis das mentiras, das falácias forjadas no seio de  nossa sociedade autoritária. 

No entanto, nada mais estranho às suas concepções, nada menos Freiriano do  que elevá-lo à categoria de herói, salvador, portador de um método completo  produzido exclusivamente por sua mente genial. Acreditamos que estaríamos  

traindo profundamente o homenageado ao homenageá-lo dessa maneira,  como quem erige uma estátua de pedra. O método Paulo Freire, se é que  podemos chamá-lo método (preferimos falar em práxis, ou em ética freiriana),  foi construído por tantos e tantas que saíram pelos rincões do Brasil, vivendo a  aventura de ensinar aprendendo. 

Foi na tentativa de superar esse impasse, que surgiu o desejo de homenageá-lo  através da obra de uma educadora popular, escritora, vencedora por três vezes  do mais importante prêmio da literatura brasileira, o Jabuti, que trabalha o tema  da educação em seus contos, poemas e romances. Maria Valéria Rezende, essa  desconhecida do grande público. Outrora freira e missionária. Maria Valéria descreve  em seus textos toda “buniteza” dolorosa e vital implicada nos processos educativos.  

Através de Maria Valéria queremos abraçar as professoras e professores desse Brasil. 

QUEM É MARIA VALÉRIA REZENDE E A NECESSIDADE DE CONHECÊ-LA Reportagem do Le monde Diplomatique - por Thais Ilheu: 

“Seria preciso ao menos outros setenta e seis anos ao lado de Maria Valéria Rezende para  ouvir com a merecida minúcia sobre os que ela já viveu. “A base de tudo é perguntar e  ouvir. É assim que eu vivo, não sei ser de outro jeito”. De tanto perguntar e ouvir, Maria  Valéria carrega um mundo inteiro dentro de si — mundo este que começou a ser  revelado apenas há dezoito anos, quando a missionária e educadora popular estreou  na literatura com seu primeiro livro, Vasto Mundo. Na literatura formal. Antes disso, suas  obras batidas à máquina e costuradas à mão já circulavam por aí, entre uma casa ou  outra do sertão. Durante suas longas estadias no interior e “depois de ler quatro vezes  cada livro que tinha”, ela escrevia para se divertir e depois presenteava os amigos. Anos  depois, as cópias de papel carbono amassadas entre livros e dicionários lhe renderam  três prêmios Jabutis, entre eles o de 2015 na categoria Romance e Livro do Ano de Ficção  com Quarenta Dias. 

Esse caminho para a literatura poderia até ter sido mais curto. Nascida em família de artistas  — Maria Valéria é sobrinha-neta de Vicente de Carvalho (jornalista, político e abolicionista) —,  ela admite que não se empolgava diante das opções para as mulheres da época: cuidar da  família, ser escritora ou professora. Escolheu dedicar a vida à educação, mas não exatamente  da forma que se esperava: “eu achava muito mais divertido ser professora da roça, no meio  do mundo, não uma professora tradicional”. Depois de integrar a equipe nacional da  Juventude Estudantil Católica, recusou uma posição no conselho mundial e decidiu entrar  para o noviciado. E depois? “Daí eu ganhei o mundo”. 

Viu nascer (e ajudou a construir) a Teologia da Libertação, morou ao lado do escritor  Gabriel García Márquez, andou pelas ruas de Cuba ao lado de Fidel, transcreveu e ajudou  a publicar as cartas de Frei Betto da prisão, sentiu o frio e silêncio cortante dos anos  de chumbo no Brasil e acompanha agora a volta aos holofotes de uma “aristocracia”  da qual assistiu o auge e a decadência. Tudo isso sob o mantra freiriano que espalhou  pelo mundo. Perguntar e ouvir. Que sorte a nossa que há dezessete anos Maria Valéria  resolveu também contar.” 

Maria Valéria Rezende é mais uma dessas mulheres - assim como Ivone Gebara, ambas  freiras e também amigas - que passaram a fazer parte de nossas fontes inspiradoras  e temos sorte de tê-las vivas e perto de nós. Maria Valéria através de suas andanças  pelo mundo, traduziu em livros, em palavras lavradas com maestria a importância da  educação na formação do indivíduo.  

Nós, da Cia. do Tijolo, acreditamos na importância de investigarmos os escritos de uma  mulher fundante na construção do país, que muitas vezes, como outras mulheres, ainda  são desconhecidas da maioria de nós. E ter uma autora dessa envergadura como nossa  cacimba de pesquisa, uma mulher que além de pedagoga e autora, também criou o  Mulherio das Letras, que é um movimento que dá luz às mulheres escritoras e às editoras  independentes em todo o país, nos enche os pulmões de entusiasmo.

Em processo

A Cia. do Tijolo se debruçou em 2023 em três espetáculos inéditos. Esses processos criativos são decorrência de reflexões em elaboração desde 2016, ano em que realizamos nossa última peça de maior fôlego, O Avesso do Claustro. Não que não tenha havido muita produção durante esse período. Foram dois documentários, dois filmes, desmontagens, dois shows musicais e muita conversa e estudo. Mas temos a impressão de que o tempo e a história apresentam novos desafios com os quais precisamos lidar.

A elaboração desses três trabalhos busca responder a uma pergunta: qual a função de um grupo de teatro na (re)construção de uma sociedade democrática no Brasil? (Importante salientar que dizemos sociedade democrática e não simplesmente regime democrático e que, por democracia, entendemos algo distinto da democracia liberal). Dessa pergunta fundamental surgem muitas outras que orientam, desorientam e reorientam nosso caminho: como deve se dar a relação dos artistas com a plateia? Quais as relações dos artistas entre si? Quais as temáticas mais prementes? Onde, com quem e para quem realizar nossos trabalhos? E por aí vai.

Dois temas interligados se apresentaram para nós, incontornáveis: a práxis da educação libertadora e a ideia de “comum”, palavra presente em comunhão, comunidade, comunismo, etc... Não há como não fazer referência à obra de Silvia Federici e sua política dos comuns. Mas também não há como não nos referirmos à definição de comunismo elaborada por Dona Maria Viúva, paraibana, intelectual oriunda das CEBES, agricultora e ativista: “comunismo pra mim é o comum comigo, o comum contigo e o comum com nós todos. Sendo assim eu sou comunista até a morte”

Corteja Paulo Freire é um espetáculo celebração criado para espaços abertos. Essa Corteja (grafada e dita no feminino) é, em primeiro lugar, desagravo a um dos maiores intelectuais brasileiros, tão difamado nos últimos anos. Mas não é só isso. Corteja é uma homenagem às educadoras e educadores populares, às professoras e professores de primeiro e segundo graus e a todos esses trabalhadores das escolas que encaram de frente, cotidianamente, o “desafio Brasil”.

Já Guará Vermelha, espetáculo inspirado no romance “O Voo da Guará Vermelha” de Maria Valéria Rezende, narra uma experiência educacional no sentido mais pleno e amplo que se possa conceber. Um trabalhador é alfabetizado por uma prostituta que se encontra à beira da morte. Seu nome é Rosálio. É pedreiro e contador de histórias. Ele conta para ela suas muitas histórias, enquanto ela o ensina a registra-las no papel. Esperar a próxima história faz com que ela, Irene, afaste a morte para o depois. O amor, a política e a vida em comunidade estão tão emaranhados nessa experiência, que o ato de ensinar e aprender se apresentam em seu aspecto mais vital e humano: ensinar e aprender para não morrer de fome, para não morrer de doença, para não morrer de esquecimento.

Restinga de Canudos surge de um fato pouco notado na trágica história daquela comunidade. Havia duas professoras em Canudos responsáveis pela educação das crianças. Nosso espetáculo discute a função da educação na construção de formas de vida alternativas como as que surgiram - sempre surgem e ressurgem ! - pelos cantos esquecidos do país. Restinga de Canudos é uma aula espetáculo que começa com uma aula de história ministrada por uma professora do ensino médio. Atuadores, plateia, técnicos na sala antessala do teatro.

O fazer teatral é considerado por nós uma forma de construção de conhecimento sobre o mundo. Uma prática singular capaz de interrogar o presente e produzir saberes tão importantes quanto qualquer ciência ou filosofia. As contradições, impasses e paradoxos de nosso tempo são elaborados através do trabalho dos artistas e sintetizados em imagens, símbolos e metáforas. Os rumores que atravessam o tecido social tomam forma de diálogos, pedidos, poemas, gritos, perguntas e reivindicações e canções. O invisível pode então ser visto e o silencio passa a ser ouvido. Pensamos que um teatro freiriano deva, acima de tudo, ser capaz de ouvir e dar a ouvir esses rumores, transformar os conflitos em formas sensíveis e, coletivamente, ser ele mesmo um exercício democrático em ato. Suspeitamos que o teatro, se quiser contribuir para nosso tempo, deva ser a práxis do comum.

Atuadores

Atuadores

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Dinho Lima Flor

Ator

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Karen Menatti

Atriz

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Rodrigo Mercadante

Ator

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Fabiana Vasconcelos Barbosa

Atriz

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Rogério Tarifa

Diretor

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Thais Pimpão

Atriz

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Dinho Lima Flor

Ator e diretor

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Karen Menatti

Atriz

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Rodrigo Mercadante

Ator e diretor

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Jonathan Silva

Músico e compositor

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Maurício Damasceno

Músico

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Dicinho Areias

Músico

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Marcos Coin

Músico

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Flavio Barollo

Video artista e designer do site

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Suelen Garcez

Produtora

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Lilian de Lima

Atriz

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Alécio Cézar

Fotógrafo e cenotécnico

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Lucas Vedovoto

Produção

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Laiza Menegassi

Iluminadora

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Leandro Wanderley

Técnico de som

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William Guedes

Diretor Musical

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Leandro Goulart

Músico

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Eva Figueiredo

Musicista

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Clara Kok Martins

Musicista

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Cris Raséc

Atriz

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Fábio Viana

Designer e mídias sociais

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